Há cerca de meia dúzia de anos que se vem tocando no tema, sem que na realidade o projecto tenha avançado ou caído de vez. Desde o primeiro dia me mostrei contra. Ora, falamos de espaço público, com área residencial, comercial e de serviços. Temos ruas de grande tráfego e acesso ao Castelo, cemitério, Igreja e Convento dos Lóios, assim como ao Mercado Municipal. Numa visão claramente superficial, pouco económica e nada futurista o conceito de velho do Restelo cai que nem uma luva e parece ser a solução. Com bilheteira só se vislumbram complicações para o público e habitantes, assim como a previsível redução de visitantes. Mas chegamos ao ano 2010… quase a virar a página para 2011… uma crise global é real, assim como um evento que começa a notar alguns pontos negativos pela enchente em demasia. Ora, vamos então reflectir sobre a Viagem, os bilhetes, o recinto, os visitantes, o centro histórico, a realidade económica e de orçamento e a vizinhança no panorama cultural do concelho.
Acredito que devo começar pela motivação número 1: o orçamento. A crise obrigou ao aperto de cinto e, como todos sabemos, a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira decidiu apertar em demasia. Ao que parece alguns FILHOS desta gente não conseguirão sobreviver à escassez de verbas e recursos. Decidiu-se pela redução das verbas a transferir para a Feira Viva em 50% e um “toca a fazer o melhor”! Pois, a empresa municipal passa a contar com menos de 400 mil euros da autarquia para TUDO o que tem em mãos [eventos, gestão de piscinas e pavilhões, Zoo de Lourosa,…] e tal valor não será sequer suficiente para a manutenção do Zoo de Lourosa. Resumindo, o aperto do cinto é tal que alguém terá mesmo a corda na garganta. Oxalá não sejam as aves de um dos melhores parques ornitológicos a sofrer com esta escassez de verbas.
A acção do Movimento contra a Suspensão do Imaginarius atingiu o objectivo… o executivo municipal acrescentou o Festival Internacional de Teatro de Rua aos eventos obrigatórios, ou “estrelinhas” da Feira como por aí já se diz. É claro que me satisfaz tal facto… mas nem por isso a verba aumentou… o corte é real e não há capacidade de responder a todos os eventos.
Há, então, que procurar alternativas… nunca desistir. E na Viagem Medieval poderá estar a solução. Nesta perspectiva não poderei deixar de concordar com a cobrança à entrada do recinto. As largas centenas de milhares de visitantes darão um forte contributo para a tão falada auto-sustentabilidade do projecto, assim como para a manutenção de outros eventos do concelho. De qualquer forma não se deverão descorar um conjunto de pontos fundamentais.
Primeiro: número de visitantes. Durante anos se protelou a eventual redução do impacto de público com a introdução de bilheteira [inclusivamente eu], mas na verdade atingimos um nível de visitas que começa a perturbar o bom funcionamento do evento. O ideal seria aumentar a área do recinto, mas nas condicionantes actuais, uma ligeira redução de visitas até traria vantagens ao nível da segurança e da qualidade do evento. Isto, acreditando naquilo que até aqui se anunciava, até porque um sistema de bilheteira bem desenhado e equilibrado, com o ajuste das áreas de acesso pago no interior do recinto, não deverá representar quebras deveras acentuadas. Pelo que se sabe, estarão em cima da mesa valores na ordem do euro a euro e meio pelo bilhete diário e três euros pelo passe para todos os dias da Viagem. Acredito que desta forma ninguém deixará de visitar o evento… mas há que salvaguardar que com o pagamento de entrada o nível de satisfação CAI quando se pede para voltar a pagar no interior.
Por outro lado, há que considerar o recinto, os acessos e a vedação. Segundo as informações que me chegaram, a organização estará já a trabalhar arduamente neste sentido, de forma a definir todos os pormenores e complicações o quanto antes, permitindo delinear estratégias e alternativas atempadamente. Se a utilização do Parque da Cidade, Guimbras, envolvente ao Convento, Quinta do Castelo e Castelo não me suscitam dúvidas… já o centro histórico poderá trazer complicações. Importa salvaguardar o acesso às residências, comércio e serviços… assim como cemitério e igreja, eventualmente com a transferência de missas para a Igreja da Misericórdia, durante o evento. Quanto ao resto, a distribuição de pulseiras passe aos residentes e criação de bilhete reembolsável para acesso comercial serão certamente casos a considerar.
Tratando-se de um facto imprescindível nas condicionantes financeiras actuais, importará mais concertar estratégias no sentido do bom funcionamento do sistema, evitando polémicas e dúvidas de primeiro impacto, do que discutir a pertinência e alternativas que não me parecem estar à vista. Resta agora aguardar pelas conclusões do estudo para a implementação deste sistema de bilheteira, de forma a compreender a 100% aquilo que teremos pela frente e eventualmente tecer alguns comentários e sugestões no sentido da melhoria.