Conceptualmente um projecto absolutamente brutal. Trata-se
da prova viva da capacidade criativa e do know-how
residente em Santa Maria da Feira, no domínio das artes de rua.
De qualquer forma ao longo dos anos, este conceito, que tem
explorado insistentemente o mesmo local para a sua realização, começa a
incorporar estruturas e temas característicos das abordagens contemporâneas ao
espaço público, cada vez mais afastados dos tradicionais conceitos medievais. Apoio
totalmente que tal aconteça, mas, de facto, o recinto começa a transformar-se
numa plataforma de germinação de conceitos congéneres, que talvez exija mais algum
rigor nos figurinos, cenários e elementos de cena, de forma a não desvirtuar o
conceito base da Viagem Medieval.
Isto não representa que tenhamos estado perante um mau
espectáculo, bem pelo contrário. Confesso, ontem cheguei com receio à escadaria
da Matriz. Ao fim de cerca de uma década de exploração deste conceito alternativo
nesta escadaria, a cada ano receio a síndrome de repetição. Mas tal não
aconteceu… nos ensaios havia-me apercebido de uma exploração de mesmo tipo de
movimentos dos anos anteriores, mas o todo compõe o projecto e encontramos uma
globalidade ímpar e absolutamente recomendável.
Falamos de um projecto visualmente fabuloso, musicalmente
fantástico, artisticamente sublime e de uma grande energia e capacidade de
atracção de público. No fim, alguma surpresa e muitos aplausos a uma peça que
se desenrola na ligação entre os quatro elementos essenciais e termina no
quinto da lista: a origem humana… a vida!
Para terminar, a minha dúvida de sempre: porque não se
encaixa um projecto desta natureza, sem limitação criativa no desenvolvimento
de cenários e figurinos, no Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de
Rua? Estamos perante um projecto notório de integridade e capacidade de
renovação, mesmo mantendo um alinhamento base de temáticas místicas e o mesmo
local de apresentação. Tantas edições, tantas adaptações serão a prova da
capacidade de entrar numa nova dinâmica… não estará na altura do desafio?
Sem comentários:
Enviar um comentário